Pacientes reclamam de terapias em grupo e falta de atendimento individualizado, além das longas filas para atendimento psicológico e psiquiátrico
Érik Borges / Especial
O quanto é suportável (ou insuportável) a dor psicológica? Uma dor que não sangra, mas que deixa marcas, sofrimento e, em casos mais graves, até casos fatais. Esse é o questionamento que paira sobre a saúde mental em Criciúma, especialmente em relação ao atendimento no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial 3), onde pacientes reclamam da falta de psicólogos para atendimentos individualizados. As críticas surgem principalmente devido ao formato de atendimento em grupo, que, segundo relatos, gera desconforto ao expor questões pessoais na frente de outras pessoas. A demanda por atendimento individualizado parece crescer, mas a estrutura de atendimento, parece não acompanhar essa necessidade.
Atualmente, 766 pessoas estão na fila de espera para atendimento psicológico no município de Criciúma. Entre adultos e idosos são 536. Para crianças e adolescentes, o número chega a 230, com casos de espera que chegam a seis meses. Uma criança, por exemplo, está aguardando uma consulta com psicólogo desde novembro de 2024, ou seja, já são mais de seis meses de espera. Este cenário tem gerado inquietação tanto nos pacientes quanto nos profissionais da área. Para a psiquiatria infantil, são 240 crianças aguardando consulta pela 1º vez e psiquiatria geral são 1.320 pessoas aguardando, sendo que centenas delas aguardam desde janeiro, quando realizaram a solicitação.
A denúncia foi feita por uma psiquiatra que trabalha na rede municipal de saúde de Criciúma, que preferiu não se identificar. Então a reportagem dará o nome fictício de Jualiana. Ela relatou que muitos pacientes estão sendo encaminhados para atendimentos em grupo, mesmo quando o atendimento individualizado é necessário para o acompanhamento mais eficaz do quadro clínico de cada um. “Imagina você ter que expor seus problemas na frente de um vizinho, alguém do seu bairro? Algum conhecido? É incômodo e acaba impossibilitando o paciente de se abrir, de se aprofundar mais sobre suas questões”, diz a psiquiatra.
A reportagem, em contato com o secretário de Saúde de Criciúma, Deivid Freitas Floriano, trouxe à tona esse problema e questionou sobre a viabilidade de o paciente escolher entre atendimentos individuais ou em grupo. Além disso, indagou sobre a possível escassez de profissionais, como psicólogos, para atender à demanda de forma mais célere.
A reportagem questionou sobre a existência de filas de espera para atendimento individualizado, um ponto importante para compreender se o sistema está sobrecarregado. Embora o secretário tenha explicado que as demandas são analisadas e atendidas conforme os protocolos, ele não apresentou dados concretos sobre a fila de espera para atendimentos individuais.
O secretário explicou que o atendimento no CAPS é coordenado por uma equipe multiprofissional, que inclui psicólogos, assistentes sociais, médicos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, entre outros. A definição do tratamento de cada paciente, de acordo com o secretário, é feita coletivamente, levando em consideração o quadro de saúde e as necessidades específicas de cada indivíduo. Nesse processo, são definidos planos de tratamento personalizados, que podem incluir tanto atendimentos individuais quanto em grupo.
“Todo atendimento que é feito dentro do CAPS, quando o paciente acessa esse serviço, a equipe multiprofissional define um plano de tratamento para cada paciente. Esse plano pode envolver atendimentos coletivos, individuais ou outras modalidades, conforme o caso de cada paciente”, afirmou Deivid Freitas Floriano.
Apesar da flexibilidade do sistema de atendimento, a escolha do paciente sobre o formato do tratamento não é garantida. O secretário deixou claro que o direcionamento para atendimento individualizado ou em grupo é feito com base em protocolos clínicos, que são estabelecidos pelos profissionais de saúde, com respaldo na literatura científica. Estes protocolos visam otimizar o tratamento, com base no que se considera mais eficaz para cada caso.
No entanto, apesar da adoção de protocolos, há pacientes que prefiram e até necessitem de atendimento individualizado, mas estão sendo encaminhados para os atendimentos em grupo, uma alternativa que pode ser mais rápida para a gestão do serviço, mas que nem sempre atende às necessidades emocionais e psicológicas do paciente. Em alguns casos, essa opção coletiva pode gerar desconforto e frustração.
“Eu não me sinto confortável falando sobre meus problemas em grupo. Preciso de um atendimento individualizado, mas demoro meses para conseguir um psicólogo só para mim”, desabafou uma paciente de Criciúma, que a reportagem dará o nome fictício de Adriana.
Já o secretário Deivid Floriano reforçou que o Ministério da Saúde tem intensificado a adoção de atendimentos em grupo em diversas áreas, devido aos benefícios observados nesses modelos. Exemplos disso são os grupos de apoio e terapias para condições como ansiedade e luto, além das atividades nos parques que combinam exercício físico com cuidados de saúde mental.